segunda-feira, 21 de maio de 2012
A menina dourada - Parte 2
Dei meia volta e segui a trilha de volta pra casa.
Um sentimento estranho tomara conta de mim e eu não conseguia pensar em nada, a não ser na tal garota ruiva e em seu jeito diferente de tudo que já havia visto antes. Continuei curiosa sobre o que montávamos e a curiosidade aumentava mais a cada vez que eu olhava a peça que ficara comigo.
Adormeci e logo pela manhã voltei ao mesmo lugar onde a observei e por la fiquei durante horas, na esperança de encontrá-la e de conseguir desvendar todo mistério que ela deixara no ar no dia anterior.
Assim foi durante dias, semanas... eu sempre com a peça na mão direita, pronta pra entregá-la e nada da ruiva aparecer.
Eu já não sabia explicar o porquê de insistir tanto. Passei a sonhar com aquela cena e ficava assustada com a forma que fiquei mexida.
Minha família, um tempo depois, resolveu se mudar. Fomos para uma cidade ha 2 milhas de onde morávamos, onde nem o ar era semelhante ao do antigo lar. Árvores nos cercavam, pássaros nos visitavam todo o tempo e o céu, ah o céu, ele me deixava boquiaberta com tamanha beleza.
Durante alguns dias, esperavamos pelo resto das nossas coisas que ainda estavam na outra cidade e fomos avisados de que uma das caixas havia desaparecido e que já não poderíamos fazer muito para encontrá-la.
Enquanto organizavamos a casa, não sentimos falta de muita coisa. Na caixa desaparecida haviam apenas alguns objetos de porcelana que encontraríamos em uma lojinha qualquer.
Papai, empolgado com nosso imenso quintal - que mais parecia uma floresta - pendurou redes e balanços em várias das árvores e la eu sentava sempre pra sonhar e escrever. Num dos cochilos sob a árvore mais alta e recheada de folhas, sonhei que reencontrava aquela menina ruiva com quem eu já não sonhava a quase um mês - e que já nem me lembrava diariamente - e saiamos andando numa trilha linda, trocando sorrisos e gargalhadas como amigas de longas datas. Acordei atordoada e corri para o meu quarto, revirei as gavetas, as caixas ainda empacotadas e me lembrei que havia guardado a peça junto aos objetos de porcelana da vovó. Uma lágrima quente rolou pelo meu rosto e senti um forte aperto no peito. Era como se eu tivesse perdido uma parte de mim ou, pior, como se eu tivesse perdido alguém de extrema importância.
Nada, absolutamente nada, havia me deixado tão murcha. Passei o resto da semana revesando de rede em rede, balanço em balanço, pensando em como uma simples peça me deixara tão desolada. Foi então que comecei a pensar que o que me deixava mal não era o fato de ter perdido parte de um quebra-cabeça, mas sim o de deixar ao léu a única pista que tinha para encontrar a pessoa que mais mexeu comigo.
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